entrevista com jéssica martins sobre os bastidores do show do dexter no lollapalooza brasil 2024

Por trás dos grandes shows de festivais – e fora deles também – existem mulheres trabalhando incansavelmente para que tudo saia perfeito. Porém, o trabalho dessas mulheres – que estão nos bastidores do mercado musical brasileiro – muitas vezes passa desapercebido. A escola Annenberg, da Universidade do Sul da Califórnia, afirma que há apenas 11,7% de mulheres trabalhando em gravadoras, 22,2% em editoras, 7,1% em streaming, 6,7% em música ao vivo e 20% em rádio. Esses números são relativos a diversos cargos sênior e executivos na indústria musical (Pesquisa citada por We In The Crowd). Pensando nisso, trocamos uma ideia com Jéssica Martins, produtora executiva do rapper Dexter e responsável pela execução do show do artista no Lollapalooza Brasil 2024, para compartilhar os bastidores da apresentação e também da profissão. Confira abaixo.

Como é ser mulher na linha de frente do show do dexter no Lollapalooza?

Dexter e eu trabalhamos juntos há alguns anos, hoje eu conquistei um lugar de confiança e tenho cada vez mais espaço para assumir frentes. O show em um festival sempre exige uma demanda maior de todos nós enquanto equipe, mas todo e qualquer show/projeto que o Dexter se propõe a fazer é sempre com muito cuidado, atenção e dedicação, e com o Lolla não foi diferente.

Sobre ser mulher nesse meio, sabemos que ainda é um ambiente majoritariamente masculino em todas as funções que envolvam um grande evento, e no nicho Rap mais ainda. Dito isso, eu sempre gostei de grandes responsabilidades, faz parte da minha personalidade, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Quase sempre os homens ficam se questionando ou fazendo cara de desacreditados quando percebem que sou eu, uma mulher, que tem autoridade máxima (depois do meu artista, claro ), e eu me sinto realizada, orgulhosa e honrada de ter oportunidade de ocupar esse lugar tão importante.

Mas ainda em 2024 passo por várias coisas machistas e desnecessárias. Mesmo quando eu digo que é comigo que resolvem tudo, ainda ficam procurando um homem (risos). Eu não ocupo esse lugar por coincidência e sim porque meu chefe confia no meu trabalho e são anos de estudo e dedicação. Gostaria que o respeito fosse igual e luto por isso, assim como outras produtoras em outras equipes. Mas estou longe de me amedrontar ou algo do tipo. Também acho ruim criar uma rivalidade de gênero, afinal nossa profissão só perde como um todo. Nós mulheres ainda temos que provar nossa competência muito mais vezes, só por sermos mulheres. Particularmente falando, eu dou conta do recado e sou muito feliz em ocupar esse lugar.

Quase sempre os homens ficam se questionando ou fazendo cara de desacreditados quando percebem que sou eu, uma mulher, que tem autoridade máxima.

– Jéssica martins

Você não chegou até aqui por acaso, conta um pouco sobre a sua trajetória trabalhando com produção.

Comecei trabalhando com uma banda de reggae em 2009, eram meus amigos e não tinham ninguém pra fazer a produção deles. Eu fui conhecendo cada vez mais esse mundo e me apaixonando. Era tudo muito amador, claro. Mas foi quando tive real contato com esse mundo de produção que decidi que queria fazer daquilo minha principal profissão. Comecei a faculdade de administração de empresas no ano seguinte e tinha um emprego formal pra pagar contas, porém, em paralelo, eu sempre fazia a produção de shows e eventos dessa banda.

A parte ruim é ser um meio muito fechado, diferente de empregos formais onde se manda currículo, etc. Então, para ter mais oportunidades e visibilidade, fui estudar. A parte teórica para mim é extremamente importante e necessária para quando chegar a campo ter visão do todo, inclusive acho que falta isso no mercado. Fiz um curso de especialização em Show Business, na On Stage Lab, onde tive a oportunidade de conhecer os bastidores de grandes shows e estagiar em muitos eventos.

Em 2016 entrei na Oitavo Anjo Produções e três meses depois já tivemos um show de grande porte: o lançamento do CD Flor de Lótus, do Dexter, no Auditório do Ibirapuera. Foi aí que tanto eu, quanto ele, entendemos que nossa parceria tinha dado certo e estamos juntos até hoje. Ao longo desses anos, tivemos algumas pausas, pois achei importante conhecer outros mercados, como o da publicidade/audiovisual por exemplo. Fiz produção corporativa no The Town, trabalhei com outros artistas como Cléo Pires e Marina Sena, que foram experiências incríveis. Mas o Dexter é o artista com quem eu mais me identifico, temos um timing que anda junto, tenho liberdade pra ser quem sou e executar as tarefas no meu tempo, pois ele sabe que tudo que está na minha mão vai ser resolvido. E isso pra mim é o mais importante, a confiança ao ponto de ter liberdade.

A parte teórica para mim é extremamente importante e necessária para quando chegar a campo ter visão do todo, inclusive acho que falta isso no mercado.

– jéssica martins

Qual é o seu objetivo profissional no momento? Onde gostaria de chegar?

Eu amo trabalhar com Rap, acho que sempre um pedacinho de mim vai estar envolvido de alguma forma. Mas sonho em um dia fazer parte da curadoria de grandes eventos/festivais. Não faço parte (e nem quero) das famosas panelas, então por isso talvez seja mais difícil. Mas a gente cria as nossas próprias se precisar. Nada nunca foi fácil e tenho muita segurança e confiança no meu potencial, não me vejo fazendo outra coisa. Enquanto isso, sigo experimentando diversos segmentos de evento, já fiz eventos musicais, esportivos, corporativos, mas meu forte mesmo é ser linha de frente dos artistas. Pretendo ainda ficar nos projetos com o Dexter e aproveitar ao máximo essa parceria que ao meu ver é muita rara e especial. Eu olho pra ele já sei o que ele quer e/ou está pensando o que torna tudo mais fluido e dinâmico.

Sonho em um dia fazer parte da curadoria de grandes eventos/festivais.

– jéssica martins

Passa a sua visão para as mulheres que estão querendo se inserir no mercado musical e desejam atuar com produção de shows.

Se é seu sonho tenha muita clareza de que não é fácil. Estude até ter a teoria na ponta da língua e se mostre disponível. Hoje em dia existem eventos voltados especificamente para mulheres na produção e empresas que só contratam mulheres. Temos que ocupar todos os lugares que quisermos, mas se eu disser que não vão tentar te diminuir só pelo fato de ser mulher, estarei mentindo. Mas é possível, e na minha opinião necessário. Cada vez mais vejo mulheres ocupando cargos de gestão e linha de frente de grandes artistas e produções, ainda está longe de ser o ideal, mas fico feliz de ver o mercado expandindo pra nós.

Temos que ocupar todos os lugares que quisermos, mas se eu disser que não vão tentar te diminuir só pelo fato de ser mulher, estarei mentindo.

– jéssica martins

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