Djonga lança o álbum “O Dono do Lugar”

Obra faz uma reflexão sobre masculinidade tóxica e critica a indústria musical

Texto em colaboração com Gabriel Carvalho

Foto por @coniiin

Nesta quinta-feira,13, Djonga, lançou seu sexto álbum, intitulado “O Dono do Lugar“, uma obra que vai além dos virais e hits do momento, e que convida o ouvinte a refletir sobre questões importantes. Mas isso não significa que o álbum seja denso, pelo contrário, mesmo com muitas palavras e com músicas de até cinco minutos, “O Dono do Lugar”, é fácil e gostoso de ouvir, assim como os outros álbuns de Djonga. 

Provando que raio um cai mesmo mais de uma vez no mesmo lugar e desta vez surpreendendo o próprio Djonga, a escolha da data para o lançamento do disco aconteceu de maneira inusitada, não foi proposital. O rapper contou durante a coletiva de imprensa – realizada na sede do Mídia Ninja pelo selo A Quadrilha e pela distribuidora ONErpm, que dessa vez foi o número 13 que o escolheu. 

“A primeira vez que lancei o álbum no dia 13 foi sem querer, foi o dia que estava disponível. A segunda vez eu tinha um disco foda pra lançar, que era o “Menino Que Queria Ser Deus”, e ele já estava pronto no dia 13, e aí já virou um marketing involuntário. Quando fiz o “Ladrão” estava num processo mais calmo, lancei dia 13 também. Depois de ter lançado o “Nu”, durante a pandemia, eu quis quebrar esse ciclo do dia 13 de março, porque esse foi um disco que fiz num momento triste, é um disco que eu não ouço. Então eu comecei a construir “O Dono do Lugar” sem data e quando ficou pronto decidi lançar entre o primeiro e o segundo turno das eleições, e a única data que tinha disponível era o dia 13, eu juro. Dessa vez foi o 13 que me perseguiu.”

Após quase dois anos de espera do público pelo novo álbum de Djonga, ouvindo “O Dono do Lugar” percebemos que é um disco que consolida todo o seu trabalho, desde “Heresia” (2017), até seu momento atual, mesclando ainda diversas experiências musicais: é a primeira vez que Djonga canta com auto tune, recurso musical que o rapper não utilizava, e agora aposta mais em arranjos. A obra foi gravada em três países e sete cidades diferentes, em um curtíssimo período de 15 dias. 

As capas dos álbuns de Djonga são conhecidas por todo o conceito que trazem, e não seria diferente em “O Dono do Lugar”. Foi a partir da obra “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, um clássico da literatura espanhola, que Djonga decidiu imprimir a essência do novo trabalho. Os moinhos que fazem parte da capa do álbum são os mesmos da obra literária. Djonga e a equipe do seu selo A Quadrilha, se deslocaram até Consuegra, nos arredores de Toledo, na Espanha, para conseguirem o feito. 

Na história, Dom Quixote decidiu lutar contra os moinhos de vento, desde então essa se tornou uma expressão para descrever situações em que se cria uma percepção errada de um adversário ou de um cenário. “”O Dono do Lugar” é uma experiência musical, sobre minha luta contra os moinhos de vento, contra inimigos maiores que eu ou contra inimigos que não existem. É uma reflexão sobre indústria da música, sobre masculinidade preta, sobre como as pretas que me cercam me seguram, sobre como meus filhos me salvam”, relatou Djonga em seu perfil do Instagram antes do lançamento.

“O Dono do Lugar” é justamente sobre tudo isso, é uma crítica ao funcionamento do mercado da música e uma reflexão sobre a construção da masculinidade tóxica do homem preto e favelado. Misturando funk e trap, esse é o primeiro álbum de Djonga pelo selo A Quadrilha e conta com participação de grandes nomes do cenário ao longo das 12 faixas: Vulgo FK, Oruam, Sarah Guedes e Tasha e Tracie são alguns que integram essa lista. E ainda, a faixa “do menor” tem produção de Dallass, dono de hits como “X1”, do MC Cabelinho, e “Vizão de Cria 2”, de Filipe Ret, Anezzi, TZ da Coronel, Caio Luccas, PJ HOUDINI e MC Maneirinho. 

Pode parecer uma comparação ousada, mas Djonga me lembra muito os Racionais dos anos 1990. Assim como as obras do maior grupo de RAP da américa latina, as canções de Djonga carregam letras críticas, politizadas, que vão contra às tantas violências sofridas pelo povo preto e periférico. Djonga consegue tocar o ouvinte numa camada profunda e é sempre aclamado pelo público que entoa “fogo nos racista” a plenos pulmões em seus shows. “Djonga é o último suspiro do RAP”, eu ouvi e concordei. E não tô aqui dizendo que o RAP vai acabar, o RAP tá vivão e vivendo, movimentando a economia mais do que nunca. Mas talvez Djonga seja o último nome a trazer consigo a essência do RAP politizado dos anos 1990 e ser aclamado por isso. 

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