Pode soar contraditório, mas a música do funkeiro é atual, e talvez atemporal, ao mesmo tempo que nos faz viajar no tempo
Foto por Flávio Florido
Há muito tempo eu não assistia a um show que me desse vontade de correr pra casa para escrever. Mas o Nego Bala (não esqueça esse nome, você ainda vai ouvir muito sobre ele) fez isso comigo esta noite. Vê-lo no palco me trouxe uma mistura de sensações: uma nostalgia de algo que nunca tinha visto antes. Como isso é possível? Simples: Nego Bala é um MC da nova geração que te faz voltar a 1990, época em que o funk proibidão tinha aquela batida seca, fazia críticas político-sociais e narrava a vivência no crime. Cidinho e Doca, MC Galo, MC Bob Rum, Amilcka e Chocolate, e ainda MC Primo, marcaram uma geração e agora têm seu legado seguido por alguns novos MCs.
Na atual era do FunkTrap, brega funk, pancadão, 150bpm, e uma série de novas vertentes do estilo, ouvir um novo nome cantando funk das antigas é de emocionar, não só a mim – saudosista por natureza – mas a uma plateia cheia. O show integrou a programação do SIM São Paulo e foi capturado para o documentário sobre o funkeiro produzido pela Sapucaia Filmes, com roteiro pela equipe da série Sintonia (Netflix), do Kondzilla.
Nego Bala, oriundo da Cracolândia, chegou tímido ao palco do Studio SP, na Augusta, não era pra menos, esse foi seu primeiro show após o lançamento de seu álbum de estreia “Da Boca do Lixo” (2021). Mas não demorou até que contagiasse o público com seu carisma e desenvoltura. De sorriso largo e com muita prosa, Nego cantou, rimou, se emocionou e – arrisco dizer que – deixou escorrer algumas lágrimas ao lembrar de sua origem, de sua passagem pela cadeia, e ao chamar seu pai ao palco para agradecer por todo suporte e incentivo recebido.
A cada música, Nego Bala era ovacionado pelo público. A cada música meus olhos brilhavam ainda mais. Quando eu gosto de um artista é um caminho sem volta. Pensei comigo mesma: já era, virei fã.
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