Boombeat fala sobre autoestima e transgeneridade no álbum “METamorFOSE”

Rapper lança seu primeiro álbum de estúdio em 25 de julho e traz participações de peso como Emicida, FBC, Urias, Duquesa, Tuyo e outros. (Créditos da imagem: Divulgação)

A rapper, cantora e compositora travesti Boombeat anuncia o lançamento de “METamorFOSE”, seu primeiro álbum de estúdio que estará disponível em todas as plataformas no próximo dia 25 de julho. Conhecida por suas rimas ácidas, melodias marcantes e estilo único, a artista vem se destacando cada vez mais na cena LGBTQIA+. O novo projeto conta com a participação de nomes de destaque da música brasileira como Emicida, FBC, Tuyo, Urias, Duquesa, Cynthia Luz, Siamese, Sodomita e Tonny Hyung.

Com produção de Gabriel Saffi, Boombeat criou as letras das 12 faixas no seu quarto, sentada em um pufe enquanto ouvia beats no YouTube. Ela sabia que queria construir um álbum que falasse sobre autoestima, se inspirando em suas próprias experiências e projetando amor próprio para si e para os futuros ouvintes do disco, com linhas que falam sobre vivências travestis de forma que várias pessoas possam se identificar.

“Eu quis trazer diversidade para o álbum para que eu consiga atingir um público maior, mas também para humanizar o meu corpo e entender que posso falar de vivências travestis sem necessariamente falar sobre uma luta específica travesti. Eu posso estar falando sobre amor, sobre ódio e sobre várias temáticas em que pessoas cis também podem se identificar com aquela música e entender que a gente também tem humanidade nas nossas relações, e que nossas vidas também podem se cruzar de alguma maneira”, explica Boombeat.

A artista conta que as ideias para as participações só surgiram após a criação das letras. Com as faixas construídas, ela analisou quem poderia se encaixar em cada uma delas e fez o convite para as pessoas com quem queria colaborar. Todas elas aceitaram, rendendo a primeira Cypher Travesti do Brasil com a participação de Siamese, Sodomita e Tonny Hyung e outros versos marcantes, como Emicida rimando sobre LGBTfobia e a importância das artistas travestis na música brasileira e uma love song com FBC, trazendo homens cis para a conversa das vivências travestis.

Para Boombeat, ter a participação de nomes como Emicida e FBC é importante para trazer pessoas cis para a conversa sobre LGBTfobia e vivências travestis, ajudando a naturalizar e humanizar corpos travestis. Ela fala sobre a importâncias de homens cis usarem sua voz para falar mais sobre a comunidade LGBTQIAP+ e suas questões, já que foram a maior parte responsável pelas violências sofridas por esses corpos, e elogia as linhas de Emicida e FBC no álbum.

“É aquele lance, a gente tá morrendo e vivendo questões problemáticas, e só perguntam pra gente nas entrevistas como é passar preconceito e como estamos vivendo. Quando as pessoas se deparam com outras pessoas héteros cis em entrevistas, elas não perguntam sobre LGBTfobia, sendo que são esses corpos que acabam trazendo LGBTfobia, seja nas suas ações, sendo diretamente LGBTfobicos, ou se silenciando sobre o assunto. Pra mim, essa colaboração é de extrema importância, e a forma que deve ser feita é fazendo música com a gente, trazendo essa reparação histórica e trazendo mais visibilidade para os nossos corpos”, reflete.

Desde que Boombeat passou a vivenciar sua verdade de gênero, ela conta com um EP e singles lançados em carreira solo desde que fazia parte do coletivo Quebrada Queer, que encerrou as atividades em 2023, mas METamorFOSE marca um momento especial, concretizando a caminhada da artista desde o início de sua carreira. Para ela, o foco na carreira solo esteve atrelado à transição, que começou durante o Quebrada Queer e segue em constante evolução. “Costumo dizer que já nasci em transição”, diz a rapper.

“Senti que as batidas do meu coração diziam que o que aconteceu ali [no Quebrada Queer] foi lindo e agora era hora de seguir sozinha. Sabia que seria um desafio, mas me sentia preparada pra isso de alguma maneira, por toda experiência que já tive, e foi uma sensação de recomeçar. Faz um pouco mais de um ano que o grupo se encerrou e venho lançando meus singles solo e estou chegando no lugar que eu mirei quando quis encerrar o grupo, que era fazer meu álbum e dar pras pessoas a oportunidade de me conhecerem mais a fundo na minha nova fase”, conta.

Agora, com seu projeto ganhando o mundo, o objetivo é construir a turnê de METamorFOSE com shows trazendo um telão especial, que já está em construção, e participações especiais dos artistas que marcam presença no álbum. Além disso, uma versão Deluxe também pode ser aguardada, com faixas inéditas e a presença do single “Borboleta”, que marcou o início dessa era da artista.

Toda a dedicação de Boombeat é com foco na realização de seus sonhos para a sua carreira, como narra a faixa Sonhar II, que encerra o disco com um áudio da cantora falando sobre a importância de acreditar e de perseguir os próprios sonhos, inspirando a quem ouve. Para Boombeat, seu sonho é simples, mas também suado: poder viver das criações de suas músicas com dignidade. 

“Tenho consciência do quanto ainda é difícil a sociedade aceitar pessoas como eu não só na farmácia pra trabalhar, mas no mundo da música também. Durante o processo do álbum, teve dias em que eu não consegui gravar no estúdio porque eu não tinha o dinheiro da passagem do ônibus, tive que ser ajudada com comida em casa porque eu abri o freezer e não tinha nada. Não é sobre chegar em algum lugar, é sobre continuar fazendo e abraçar tudo que esse caminho tem pra me dar, vivendo de música e que eu possa crescer com isso. Mas com dignidade, não quero mais passar perrengue. Acho que tudo que eu vivi me trouxe até aqui, todo o meu esforço, meu trabalho e a forma como eu enxergo ele, e eu acho que o mínimo que o mundo e as pessoas tem que me proporcionar é dignidade básica pra poder me alimentar, me vestir e continuar investindo no meu trabalho”, conclui.

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