Rappers discutem o combate à violência contra a mulher
Nesta quinta-feira, o grupo feminista Maria Mariá convidou Gaspar e Dexter para discutirem a questão da violência doméstica que ocorre principalmente com mulheres. Fabiana Ivo, que faz parte do grupo Maria Mariá, intermediou a conversa e recitou alguns trechos de rap que cabiam no momento. O bate-papo possuía microfone aberto para que qualquer pessoa da plateia pudesse se manifestar e questionar, isso foi muito bom, pois deixou a discussão mais leve e levantou muitas outras questões que foram além da violência doméstica, apesar se serem relacionadas a ela. Confira algumas fotos!
Segundo a revista Caros Amigos, edição especial de março de 2012, pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC, aponta que uma a cada cinco mulheres sofreu algum tipo de violência por parte de um homem, em 80% dos casos por parte do marido ou namorado. Isso mostra estatisticamente que o machismo continua sendo uma doença da nossa sociedade. Historicamente foi estabelecido o poder do homem sobre a mulher, o que precisa ser combatido ativamente, principalmente pelas mulheres. A posição da mulher na sociedade mudou rápido nos últimos tempos, porém automaticamente mudou também a do homem, provocando reações para que as mulheres voltem ao seu lugar de origem e permaneçam submissas aos homens.
A violência doméstica inclui desde humilhação, xingamentos, até agressões físicas. A respeito da violência contra a mulher, inclui-se também o tráfico para a exploração sexual comercial. Ultimamente o número de ocorrências na Central de Atendimento à Mulher se elevou drasticamente. O aumento da estatística é, na verdade, um reflexo de campanhas, implementação de políticas públicas e divulgação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), instrumento legal para que a mulher possa reagir. Sendo assim, o número apenas se tornou público, mulheres que não denunciavam passaram a fazê-lo.
Em casos de violência sexual, a agressão se torna um problema de saúde pública, as ocorrências são enormes e causam impactos significativos na saúde física e psicológica da mulher. A violência doméstica atinge todas as classes sociais, etnias, níveis culturais e independe da orientação sexual. No entanto há mais vulnerabilidade entre as mulheres pobres, negras e com deficiência intelectual e física, estas últimas por terem mais dificuldade para se defender, afirma a advogada Cláudia Patrícia de Luna, que trabalha há 16 anos no atendimento às mulheres vítimas de violência.
Para a advogada, a Lei Maria da Penha quebra o paradigma de que não se pode interferir na situação de violência que ocorre nas relações afetivas e familiares, no ambiente privado. Da mesma forma pensa o grupo Maria Mariá, uma integrante do grupo disse no microfone aberto do evento: “Em briga de marido e mulher, a gente mete a colher” e ainda completou: “Não podemos ouvir a briga do vizinho e no dia seguinte ir comprar pão como se nada tivesse acontecido”.
A Lei também inclui caráter multidisciplinar ao prever assistência jurídica, psicossocial e de saúde, incentivando a mulher a levar o processo de denúncia e de tratamento até o final. É necessário um apoio psicossocial para que a mulher não volte para a relação com o homem agressor. Muitas vezes elas são dependentes financeiras, temem ameaças, são dependentes emocionais e chegam a acreditar que o parceiro vai melhorar. A Lei Maria da Penha funciona como uma ferramenta educacional, é preciso pensar em como trabalhar com o agressor de forma mais pedagógica.
Existe ainda um grande equívoco por parte dos profissionais que atendem essas mulheres, médicos, advogados e policiais. Muitos desses profissionais não enxergam a questão como algo sistêmico e cultural, e dizem que a mulher vítima de violência mereceu a agressão, pois provocou. Isso pode gerar uma segunda violência por parte do Estado.
BATE-PAPO
Dois cantores de rap foram chamados para um bate papo sobre a violência doméstica, Gaspar chegou a questionar Fabiana Ivo, “Porque dois homens na mesa? Devia ter uma mulher também para falar sobre o assunto”. Fabiana explicou que são sempre as mulheres que acabam abordando o assunto e que estava na hora de homens ouvirem outros homens que pensam diferente.
Gaspar e Dexter abordaram temas como política, funk, prisão e cárcere, além questões sociais e educacionais. Dexter falou sobre a situação das mulheres nos presídios e afirmou que considera a situação delas pior que a situação dos homens, por serem mais vulneráveis. Gaspar lembrou das mulheres que lutaram ao longo da história e fez uma breve retrospectiva da posição das mulheres no rap até os dias de hoje. Estavam presentes no evento pessoas que fazem parte do sistema educacional e integrantes do grupo Maria Mariá que se manifestaram e contribuíram para o bate-papo.
O ensaio aberto ficou por conta do grupo Fora de Frequência e para encerrar a noite Dexter cantou Como Vai Seu Mundo e Saudades Mil.
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