Do G Funk ao Trap – choque de gerações?

Por Paulo Shetara – Jornalista, Historiador e DJ. Autor de 5 livros, foi editor do Jornal Yo Camp, trabalhou como comentarista no bloco Ligado no Movimento da 105 FM, como DJ e produtor organizou uma série de eventos em Campinas e região!

            No movimento Hip-Hop existe  uma galera que parou no tempo, apegada ao saudosismo, martelando o passado, os bons anos 80 e 90, e trata algo da nova geração como coisa ruim e supérflua. Aqueles que se dizem “gansgtas” e tem mais de 40 anos sofrem aquela síndrome que passamos com nossos pais e avós nos anos 80, em que diziam que as músicas do tempo deles é que eram boas e que as nossas, à época, eram uma porcaria! Sem querer, esses “gangstas” apenas reproduzem um conceito de velhos rabugentos.

Sim, foi época de ouro do Hip-Hop e principalmente do RAP, produziram no mundo, e mais especificamente no Brasil, uma geração de artistas que até hoje estão aí, talentos que o tempo deixa sempre em alta, muito ao contrário dos efêmeros atuais, que fazem suas carreiras baseadas em views de You Tube, likes de Fabebook e Instagram ou em correntes de Whatsapp. Naquela época não existia nada disto, não existia canais de divulgação tão amplos como hoje, e somente quem tinha talento muito bem estabelecido se destacava, não tinham ferramentas que permitiam montar um estúdio em casa e até acertar a voz e entonação com programas de áudio!

Sobre a nova safra que está aí, você pode gostar ou não, mas estão fazendo um estrago, com ou sem consentimento de velhos “gangstas” mau humorados. Antigamente se media a popularidade de um artista pelo número de álbuns vendidos, hoje se mede por views no You Tube, vender CD’s não conta mais (aliás o CD está com os dias contados, mp3 e vinil serão os únicos formatos que teremos)! Há gente de talento fazendo sucesso sem depender, como no século passado, de gravadoras, empresários gananciosos e jabás para rádios.

Mesmo aqueles que tinham talento antigamente eram reféns de um formato de distribuição e aceitação no mercado que os deixavam nas mãos de muita gente. Hoje, com as tecnologias a favor do talento, o artista pode ser dono de sua carreira. Muitos da new e da old school (gosto do trocadilho: Old Is Cool) perceberam isto e estão cada vez mais independentes para produzir a vontade e controlar seus ganhos! Mas lembrando que mesmo assim, se faz necessário um investimento profissional quando o assunto é RAP. Hoje em dia, amadorismo não dura muito em um mercado altamente competitivo e que carece ainda de espaços físicos para eventos.

Discorrendo sobre diferenças de estilos de gerações, vivemos agora a nova moda do RAP em formato de trap, usando as bases profundas, bumbos subs graves e caixas em tempo duplo, triplo, chimbais divididos também, ainda com algumas ideias de ostentação capitalista e mensagens a pessoas rivais. Em contraponto a época de ouro de G Funk baseado em sintetizadores e muggs, linhas de baixo marcantes e em tempo reto, bem graves e instrumentais melódicos sincopados, muitas vezes com narrativas do gueto americano, que iam de tiroteios, festas, maconha e bebidas mostrando um estilo de vida hedonista juvenil. É talvez justamente por essas que a miscelânea de quem viveu aqueles bons tempos de músicas vindas de Los Angeles em décadas passadas, com produtores como Dr. Dre, DJ Quik, Warren G, etc, não conseguem desvencilhar o subconsciente deste tempo em alguns. Mas o engraçado é que vejo jovens na casa dos 20 e poucos anos falando que nasceram na época errada e que queriam ter curtido aquele tempo, ou outros que fazem festas com músicas e estilos baseados naquela era.

            Fui para Los Angeles tempos atrás e vi que sim, os rappers na atualidade de lá não perderam seu estilo “gangsta” de ser, mas evoluíram ao tempo de sua geração e aos beats que fazem a sua geração dançar. Aliás, fica como dica que o próprio Dr Dre, que produz na sua gravadora Aftermath o furacão Kendrick Lammar, não coloca quase nada de anos 90 em seu pupilo.

            Achei interessante recentemente conversar com o Dazz do grupo Cartel Central, que mesmo sendo da geração 90 tem a mente aberta, me mandou alguns traps do grupo, se adequando aos novos tempos! Claro, há trocentos exemplos de manos e minas como ele, mas fica esse para registro. Então é isto gente, cada coisa ao seu tempo e não há música boa ou ruim da velha ou nova geração, há apenas música boa e ruim, independente da era!

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