A animação ‘Nayola, em busca de minha ancestralidade ‘faz pré-estreia no dia da Consciência Negra em SP

Uma aventura épica, um desaparecimento misterioso e um amor inabalável.

(Créditos da imagem: Divulgação)

Nayola, dirigido por José Miguel Ribeiro, é um marco na animação mundial ao unir narrativa histórica e experimentação visual para retratar as complexas heranças da guerra civil angolana. A obra, uma adaptação da peça “A Caixa Preta” de José Eduardo Agualusa e Mia Couto, segue três gerações de mulheres – Lelena (a avó), Nayola (a mãe) e Yara (a neta) – cujas vidas são marcadas pelo conflito que devastou Angola por quase trinta anos. O filme começa com Nayola partindo em busca do marido desaparecido, deixando a jovem filha Yara, que cresce sob os cuidados de Lelena. Essa jornada, que atravessa décadas, explora como o trauma da guerra é transmitido e como as novas gerações tentam superar o passado.

A personagem Yara é inspirada na rapper angolana Medusa, que também empresta sua voz à personagem e contribui com sua visão e estilo. Assim como Medusa, Yara utiliza o rap como um meio de resistência e de denúncia social. Sua música, permeada por temas de injustiça e desigualdade, torna-se um ato de guerrilha pacífica, uma forma de dar continuidade à luta da mãe Nayola. Medusa trouxe autenticidade ao papel, conectando a personagem com a realidade do movimento rap em Angola, onde artistas frequentemente enfrentam repressão ao expor condições adversas enfrentadas pelo povo angolano. .

Visualmente, Nayola é uma combinação de estilos gráficos e animação 2D e 3D, que enfatizam os diferentes tempos e dimensões da narrativa. A diretora de arte Susana Monteiro contribuiu com ilustrações minimalistas que evocam a memória e o onírico, enquanto a narrativa da guerra emprega tons quentes, refletindo a violência do conflito. Para Ribeiro, um dos desafios foi justamente manter a coesão gráfica enquanto explorava essas variações estilísticas, um processo que foi possível com o uso do 3D estilizado para criar micro-movimentos nas cenas domésticas de Lelena e Yara, diferenciando os espaços emocionais e temporais que cada ambiente representa.

O impacto de Nayola transcende sua trama. A animação foi exibida em prestigiados festivais internacionais, incluindo o Festival de Annecy e o London Film Festival, onde recebeu elogios pela abordagem sensível e inovadora do trauma da guerra e da herança cultural angolana. Em Angola, o filme também foi celebrado por sua autenticidade e por dar voz a uma parte da história raramente representada no cinema. Ao mesmo tempo em que homenageia as lutas femininas e ancestrais, Nayola evidencia a capacidade do cinema de animação de tratar de temas densos e socialmente relevantes.

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